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quinta-feira, 22 de julho de 2010

O DESAFIO DA AGRICULTURA FAMILIAR.

O DESAFIO DA AGRICULTURA FAMILIAR.

A chamada agricultura familiar constituída por pequenos e médios produtores representa a imensa maioria de produtores rurais no Brasil. São cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos, dos quais 50% no Nordeste. O segmento detêm 20% das terras e responde por 30% da produção global. Em alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais chega a ser responsável por 60% da produção. Em geral, são agricultores com baixo nível de escolaridade e diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão-de-obra.

Este segmento tem um papel crucial na economia das pequenas cidades - 4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes e destes, mais de quatro mil têm menos de 20 mil habitantes. Estes produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda deste segmento por meio de sua maior inserção no mercado tem impacto importante no interior do país e por consequuência nas grandes metrópoles.

Esta inserção no mercado ou no processo de desenvolvimento depende de tecnologia e condições político-institucionais, representadas por acesso a crédito, informações organizadas, canais de comercialização, transporte, energia, etc. Este último conjunto de fatores normalmente tem sido a principal limitante do desenvolvimento. Embora haja um esforço importante do Governo Federal com programas como o Pronaf, programas estaduais de assistência têcnica e associativismo há um imenso desafio a vencer.

A tecnologia disponível quando bem usada tem se mostrado adequada e viável. Isto acontece porque há um grande esforço da pesquisa voltado para o setor. A tecnologia é neutra e não discrimina classes de produtores quanto à área do estabelecimento. A maioria das tecnologias desenvolvidas visa aumentar a produtividade da terra e algumas, como máquinas e equipamentos adaptados aos pequenos produtores, têm como objetivo eliminar a ociosidade da terra ou aumentar a produtividade do trabalho. O desafio maior da agricultura familiar é adaptar e organizar seu sistema de produção a partir das tecnologias disponíveis.

Analisando as variáveis tecnológicas e político-institucionais há dois fatores fundamentais para o desenvolvimento da agricultura familiar: a) a massificação de informação organizada e adequada usando os modernos meios de comunicação de massa (TV, Rádio e internet) e, b) a melhoria da capacidade organizacional dos produtores com o objetivo de ganhar escala, buscar nichos de mercado, agregar valor à produção e encontrar novas alternativas para o uso da terra como, por exemplo, o turismo rural.

O desafio é maior se for considerada a diversidade de situações. Quando se analisa o cenário em que se insere a agricultura familiar observa-se que os problemas são diferentes para cada região, estado ou município. No Norte há dificuldades de comercialização pela distancia dos mercados consumidores e esgotamento da terra nas áreas de produção. No Nordeste são minif
ndios inviáveis economicamente. No Sudeste é a exigência em qualidade e saudabilidade dos produtos por parte dos consumidores. No Sul é a concorrência externa de produtos do Mercosul.

Olhando o futuro há dois aspectos. Um otimista e um, que não sendo pessimista, à desafiante.
otimista verificar que há vários modelos de sucesso no esforço de desenvolvimento, quando os obstáculos são eliminados. Mais que isto, é verificar que as experiências de sucesso tem pressupostos comuns: organizaçõo de produtores, qualificação de mão-de-obra, crédito, produtos com valor agregado e emprego de tecnologias adequadas desenvolvidas pela pesquisa agropecuária.

Os exemplos são inúmeros. No Norte destacam-se a exploração econômica do palmito de pupunha e de frutas tópicas da região, a utilização de plantas nativas como a pimenta longa para produzir safrol ou a produção de sementes de dendê, livre de doenças, para exportação. No Nordeste, o controle da produção, processamento e comercialização por parte dos pequenos produtores, com a utilização de uma mini-usina de descaroçar e enfardar algodão, aumentou substancialmente a renda das famílias de um município da Paraíba. Pequenas fábricas de processamento da castanha de caju, paralelamente ao treinamento de mão-de-obra, permitiram que os pequenos agricultores comercializassem sua produção no mercado externo. São 120 unidades em cinco estados com capacidade anual de processar 20 mil toneladas de castanha. No setor de agricultura irrigada, o pequeno agricultor tem tido participação ativa na fruticultura que apresenta boa rentabilidade além de sinalizar um processo de desconcentração de renda na economia regional.

No Sudeste e Sul é cada vez mais perceptível a transformação de pequenas comunidades rurais em unidades de processamento de frutas, legumes, lacticínios e agricultura orgânica. Hoje, nas prateleiras dos supermercados podemos encontrar uma diversidade de produtos oriundos dessas comunidades, com marca própria e registro nos órgãos oficiais de defesa sanitária. São várias associações que estão procurando padronizar o sabor de nossa cachaça para atender ao mercado externo que tem se mostrado ávido por esta bebida. No turismo rural, outra alternativa de renda para os pequenos produtores. São trilhas, pousadas, pequenos hotéis que oferecem aos turistas urbanos comidas típicas, a experiência de vida na zona rural, passeios ecológicos, etc.

Em todos esses casos a pesquisa agropecuária esteve presente. Fornecendo novas variedades e cultivares mais produtivos e resistentes às doenças, disponibilizando novos processos de transformação do produto agrícola, contribuindo para qualificação da mão-de-obra para o uso das novas tecnologias e discutindo com os produtores quais as tecnologias, processos e serviços que a pesquisa agropecuária precisa desenvolver para a agricultura familiar.

O aspecto desafiante é fazer tudo isto em uma velocidade compatível com o processo de transformação que ocorre no Brasil e no mundo caracterizado por um mercado globalizado, aberto e competitivo. De nada adianta uma excelente solu
��o quando o problema já não existe. A agricultura familiar tem pressa. Atender á demanda dessa importante parcela da população brasileira é um desafio gratificante e fundamental para uma sociedade mais justa e harmoniosa. Por isso ela é uma das nossas preocupações e está expressa como uma das principais diretrizes do Plano Diretor da Embrapa.

Alberto Duque Portugal é diretor-presidente da Embrapa.
Este artigo foi publicado na Revista Agroanalysis, no mês de março.

FONTE:WWW.EMBRAPA.BR

domingo, 4 de julho de 2010

O censo e o bom senso: hora de investir na agricultura familiar

Escrito por Elisângela Araújo, coordenadora da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf)

"No Censo Agropecuário 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Estes resultados mostram uma estrutura agrária ainda concentrada no País: os estabelecimentos não familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares."

"A agricultura familiar é responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do País, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno".

A estrutura produtiva da agricultura familiar, Censo Agropecuário do IBGE

O recém-divulgado Censo Agropecuário do IBGE estampa com amostragens, estatísticas e números que falam por si, o que a nossa Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf) afirma, com razão e orgulho, há muito tempo: somos as mãos que alimentam o Brasil.

Apesar da falta de estímulo, da escassez de crédito e da limitada assessoria técnica, são os agricultores familiares os responsáveis pela segurança alimentar e nutricional do povo brasileiro, servindo mais de 70% da população, apesar de contar com financiamento de R$ 15 bilhões, enquanto o agronegócio, multiplicador de mazelas, conta com polpudos R$ 93 bilhões.

Conforme o IBGE, enquanto os estabelecimentos rurais inferiores a 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais, os com mais de mil hectares concentram mais de 43% da área total.

Vale lembrar que guiado unicamente pelos cifrões, o agronegócio prioriza produção de grãos para o mercado externo, sendo altamente contaminador do meio ambiente com seus pesticidas e irresponsavelmente poupador de mão de obra. Ainda assim, abocanha a maior parte dos investimentos públicos, sendo premiado pelo financiamento a monoculturas como soja - cujo plantio cresceu 88% entre 1996 e 2006 -, cana de açúcar ou eucalipto, numa completa inversão de qualquer lógica, atentando contra a justiça distributivista.

É do nosso suor que, faça chuva sol ou chuva, enfrentando de seca a inundação, se origina 87% da produção nacional de mandioca, 77% do feijão-preto, 84% do feijão-fradinho, caupi,de corda ou macáçar e 54% do feijão de cor, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite de vaca e 67,0% do leite de cabra. Não é à toa que a cultura com menor participação da agricultura familiar foi a da soja (16%), um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira.

Auxiliando no combate ao êxodo rural e afirmando um novo modelo de desenvolvimento, auto-sustentável e baseado em laços de solidariedade e complementaridade, utilizando predominantemente mão-de-obra da própria família, em áreas inferiores a 40 hectares em áreas próximas a grandes densidades urbanas, ou até 100 em áreas de vocação rural, somos os responsáveis por 59% do plantel de suínos, 50% do plantel de aves e 30% dos bovinos.

Com a autoridade dos que fazem muito com pouco, combatendo as limitações, mas reconhecendo os avanços do último período, realizaremos nos próximos dias 28, 29 e 30, em Luziânia-Goiás, o II Congresso da Agricultura Familiar, com o objetivo de consolidar nossa organização, com unidade e mobilização, fortalecendo esta luta, que é de todos os brasileiros. Precisamos efetivar de uma vez por todas a reforma agrária, superar os problemas da legislação e os entraves jurídicos que emperram os processos que se arrastam por anos a fio até que uma área seja liberada.

Font:www.fetraf.org.br

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